"Nenhum homem será um grande líder se quiser fazer tudo sozinho ou se quiser levar todo o crédito por fazer isso"
Andrew Carnegie
MORNING CALL
O papel aceita tudo, o investidor não deveria aceitar
Bom dia!
Uma narrativa pode dizer qualquer coisa, inclusive mentiras. A publicidade - sem querer generalizar - sempre se utilizou de narrativas para atingir o consumidor. Algumas mais ancoradas na realidade, outras menos. Os consumidores, com o tempo, se acostumaram a entender que alguns exageros entram na conta da “licença poética” que as empresas têm para exaltar a qualidade de seus produtos. Faz parte.
Muitos desses mesmos consumidores que entendem os limites da narrativa na publicidade não conseguem compreender que o mesmo storytelling - para usar o sinônimo mais utilizado recentemente - também serve para melhorar a avaliação do mercado e de seus investidores quanto ao ativo. Ou seja, quando sentam do outro lado do balcão, na posição de sócios minoritários, acreditam em qualquer historinha contada por executivos ou majoritários.
Não faltam exemplos históricos de narrativas vencedoras no curto prazo, mas que caem por terra quando analisadas acompanham mais de perto. Para relembrar o maior das últimas décadas no Brasil, quantos questionaram ou desconfiaram de Eike Batista quando ele montou o império bilionário do Grupo EBX? Algumas vozes se levantaram, mas era até difícil encontrar argumentos contra um grupo que prometia investimentos de US$ 50 bilhões no país e um empresário que chegou a ser o 6º mais rico do mundo. A narrativa era tão perfeita que, olhando em retrospecto, óbvio que não poderia ser real.
Eike ficou conhecido como o rei dos fatos relevantes. Era como se a cada fala do executivo, um poço de petróleo ou uma mina de carvão aumentassem de potencial produtivo. Em uma entrevista em 2010, ele chegou a afirmar que não queria que brasileiros deixassem de ganhar dinheiro e por isso ia vender 20% de sua participação na OGX. Sob os olhos do mercado de hoje, não consigo imaginar uma frase com mais conflito de interesse do que essa. Ao final de 2010, em uma lista com opinião de 30 analistas de bancos e corretoras, 15 deles indicaram OGX entre as 10 melhores ações para o ano seguinte.
Os números pré-operacionais de uma empresa em um setor com altíssimo risco eram divulgados como se fossem fatos consumados. A demonstração de confiança nas falas levou a 6 IPOs das empresas do grupo entre 2004 e 2012. Ao todo, esses IPOs levantaram mais de R$ 20 bilhões e as empresas chegaram a valer mais de R$ 120 bilhões em seu auge. A cada fato positivo, os “torcedores de ação” da época, que não estavam no Twitter, mas em fóruns menores, comemoravam. Esses torcedores, quem diria, ressurgiram 10 anos.
Na hora de identificar os erros da narrativa, desculpe informar, o investidor pessoa física está praticamente sozinho. Quase toda a cadeia pela qual uma informação de um IPO passa até chegar ao investidor é remunerada por meio de comissão em ofertas - do banco de investimento às corretoras. Os bancos de investimento, por exemplo, levaram quase R$ 500 milhões em comissão nos IPOs do grupo. A imprensa, que não entra nisso, recebe informações desses agentes e nem sempre é fácil fugir das histórias repetidas por muitas pessoas do mercado.
Hoje, pouco mudou. Mesmo que existam mais players independentes. Ainda assim, é extremamente necessário que quem quer investir em renda variável saiba identificar as narrativas das empresas. O caminho não é torcer para o investimento dar certo, é identificar as oportunidades que te darão retorno mesmo que um idiota comande a empresa, já que, como diz Warren Buffett, algum dia um deles vai.
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06h00: Produção industrial de junho na zona do euro;
08h00: Relatório mensal da Opep;
09h00: Desempenho do setor de serviços em junho no Brasil;
09h00: Pedidos de seguro-desemprego da última semana nos Estados Unidos;
09h30: Índice de preços ao produtos em julho nos Estados Unidos;
19h00: Live do Suno Notícias com os principais temas do dia e o quadro “Quinta com Suno Consultoria”.
SUNO CALL
Volatilidade é o sinônimo de Brasil
Quem gosta de volatilidade, se sente bem no Brasil. Ontem, antes de uma queda de 0,12% no fim do pregão, o Ibovespa chegou a cair cerca de 1%, invertendo para alta ao longo do dia, mas arrefeceu o movimento positivo antes do fim das negociações. As blue chips foram algumas das responsáveis por esse movimento. Veja aqui os destaques do fechamento.
Petróleo. A Petrobras (PETR4) liderou os ganhos dentre as grandes empresas do Ibovespa. A estatal fechou com uma alta de 1,4%, acompanhando a valorização do barril de petróleo Brent. Os Estados Unidos pediram à Opep que eleve a produção da commodity para apoiar a recuperação global frente à pandemia. Clique aqui para saber mais sobre a Petrobras.
Tecnologia. Ontem, mais uma vez, S&P 500 e Nasdaq fecharam em suas máximas históricas. Por mais que a inflação tenha assustado, ficando acima das expectativas nos últimos 12 meses, os novos pacotes de estímulos do governo Biden sustentaram as recentes altas. Hoje, balanços de empresas de tecnologia devem fazer o preço dos índices.
Quantidade de litros de água para produzir 1kg de cada alimento. Foto Statista
O QUE MEXE COM SEU BOLSO HOJE
FECHAMENTO DE CAPITAL
OPA da Minerva agita fim do pregão
Foto: Divulgação
Pouco antes do fim do pregão de ontem, as ações da Minerva (BEEF3) dispararam 14,65%. Alguém que estava desligado pode não ter percebido, mas o mercado já negociava com a possibilidade de fechamento de capital da empresa. Segundo o jornal Valor Econômico, os controladores da empresa já discutiram o tema, que ainda não chegou ao Conselho. Saiba mais sobre a notícia aqui.
Tirar todos os papéis do mercado custaria à empresa aproximadamente R$ 3 bilhões, uma vez que a OPA seria precificada a R$ 12, um prêmio de 40% sobre a cotação atual da companhia, segundo o jornal. Em nota, a Minerva disse estar atenta a oportunidades de gerar valor, "especialmente por meio de arbitragens de mercado". A frigorífica, contudo, negou a ideia.
Negócios. Vale lembrar que, antes de comprar a preços de mercado uma participação na BRF (BRFS3), a Marfrig (MRFG3) tentou adquirir uma fatia da Minerva, sua concorrente direta. Juntas, elas seriam o líder disparado na produção e exportação de carne bovina na América do Sul.
BALANÇOS
O chamado turnaround
Foto: Divulgação
Após anos de dificuldades, o turnaround da Via (VVAR3) tem começado a mostrar resultados. A companhia reportou, na noite da última quarta, um lucro líquido de R$ 132 milhões no segundo trimestre, mais que o dobro do registrado um ano antes. A empresa atribui o resultado ao crescimento das vendas on-line. Veja aqui os detalhes do balanço.
A administração da empresa destacou os resultados de sua aposta em logística e soluções financeiras. O banQi, seu banco digital, terminou junho com 9,25 milhões de clientes, sendo 7,79 milhões ativos, avanços de 40% e 23%, respectivamente. Vale lembrar que recentemente a varejista recebeu a autorização do BC para atuar com operações de empréstimos e financiamentos.
Marketplace. O número de vendedores da Via avançou de 10 mil para mais de 70 mil em 12 meses. Enquanto isso, o número de unidades de manutenção de estoque (SKUs) saltou 10 vezes, de três milhões em março para quase 30 milhões no último dia de junho. Na visão da empresa, o crescimento no número de sellers a coloca em "pé de igualdade" para competir com qualquer um.
Desde o início da pandemia, o balanço do Fed explodiu. A estimativa é que, até o fim do ano que vem, ele atinja US$ 9 trilhões, sendo que há cerca de dois anos era de US$ 4 trilhões. Esse processo foi impulsionado pela compra de ativos corporativos na ordem de US$ 120 bilhões mensais, sobretudo como estímulo à economia durante a pandemia.
Agora, porém, os integrantes do BC norte-americano começam a repensar a liquidez abundante nos mercados financeiros. Na visão de Esther George, do Fed de Kansas, a economia dos Estados Unidos atingiu os requisitos de “progressos substanciais adicionais” estabelecidos pela autoridade monetária. Nessas condições, o fim das compras de ativos pode estar mais próximo do fim. Leia mais sobre isso.
Recuperação. Os diretores do Fed têm dito constantemente que o fim dos estímulos depende, quase que exclusivamente, da retomada do mercado de trabalho norte-americano. Embora o país ainda esteja longe do pleno emprego do pré-pandemia, os números têm melhorado e os pedidos de seguro-desemprego, recuado.
PARA FICAR DE OLHO
Resultados. A temporada de balanços corporativos segue a todo vapor, com destaque para varejistas nesta quinta. Magazine Luiza (MGLU3), Arezzo (ARZZ3), Americanas S.A (AMER3) e Lojas Renner (LREN3) devem apresentar seus números. Veja o calendário completo.
Roubo criptografado. Na última terça, hackers roubaram o equivalente a R$ 3,1 bilhões em criptomoedas, registrando o maior roubo da história neste mercado. O crime foi realizado com as moedas virtuais baseadas na blockchain Poly Network. Confira aqui a matéria completa.
Filantropia. O co-fundador do Nubank, David Vélez, se comprometeu a doar (em vida) parte de sua fortuna de R$ 5,2 bilhões. A ideia faz parte do The Giving Pledge, que conta com mais de 200 indivíduos dos mais ricos do planeta em um incentivo à filantropia. Saiba mais sobre o tema.
RADAR DE EMPRESAS
O lucro líquido da Eletrobras (ELET3) totalizou R$ 2,5 bilhões, acima do consenso do mercado, que indicava um resultado em torno de R$ 2,1 bilhões. A receita operacional líquida atingiu R$ 7,9 bilhões no período, montante 49% superior ao observado 12 meses atrás.
O Inter (BIDI11) informou que seu lucro líquido no segundo trimestre foi de R$ 18,2 milhões. O número é sete vezes maior que o verificado no mesmo período de 2020.